O Professor José Rojo Alonso
A Barão de Itapetininga foi uma das primeiras ruas da cidade que Alonso conheceu, nascido no interior do estado, mudou-se para a capital em 1944 aos 12 anos de idade, sendo o seu primeiro emprego em uma "fabrica" de chapéus para senhoras - Parisiense - situada na Rua do Arouche.
A vida profissional de Alonso foi estabelecida na Barão, o que segundo ele, o motivou a escrever sobre a história da rua, para isso ele analisou algumas fontes documentais, e recorreu a antigos moradores da mesma, pretendendo com isso obter e confirmar alguns dados. Entre os entrevistados, estiveram Luiz Poças Leitão Júnior - com 88 anos em 1999 - filho da professora de dança, de francês e de boas maneiras para a elite paulista a suíça Louise Frida Reynold Poças Leitão, conhecida como Madame Poças Leitão. A senhora Leitão fundou, em 1915, a Escola de Danças e Boas Maneiras Madame Poças Leitão, que continuou aberta até os dias atuais.
A Madame Poças Leitão é uma figura importante da história da Dança de Salão no Brasil, sendo que a dança permaneceu tradicionalmente em sua família.
A Madame Poças Leitão é uma figura importante da história da Dança de Salão no Brasil, sendo que a dança permaneceu tradicionalmente em sua família.
Oficialização da Rua
Segundo o professor Alonso, o espaço que corresponde à Rua Barão de Itapetininga era uma das áreas que formava o Bairro da Consolação - terras que supostamente foram obtidas em 1584, por meio de sesmarias. Essas terras tinham um baixo potencial para o cultivo e a coroa portuguesa doava aos que se despusessem cultivá-las. O donatário dessa sesmaria teria sido o sertanista Fernão Dias Lemes, tio do bandeirante Fernão Dias Paes Lemes.
Segundo o professor Alonso, o espaço que corresponde à Rua Barão de Itapetininga era uma das áreas que formava o Bairro da Consolação - terras que supostamente foram obtidas em 1584, por meio de sesmarias. Essas terras tinham um baixo potencial para o cultivo e a coroa portuguesa doava aos que se despusessem cultivá-las. O donatário dessa sesmaria teria sido o sertanista Fernão Dias Lemes, tio do bandeirante Fernão Dias Paes Lemes.
As terras de Lemes eram conhecidas com Capam ou Capão estendendo-se do Vale do Anhangabaú, ao que hoje é o Pacaembu e os bairros do Paraíso e Vila Mariana. A região registrada como Sítio do Capão abrangia as nascentes do Rio Anhangabaú e o Rio Pinheiros. Após anos de sucessões da posse por herança, vendas, doações, permutas e desapropriações a área – supostamente em meados do século XVIII - possou a ser chamada de Chácara do Capão.
Em 11 de novembro de 1862, no espaço que seria hoje em boa parte a Barão, o Conselheiro Pe. Vicente Pires da Motta e presidente da Província na época concedeu autorização de desapropriação à Câmara de uma antiga construção que era moradia de João Martins da Silva. O propósito dessa desapropriação seria
“desimpedir espaço para a abertura de uma rua que começada no Largo dos Curros (atual Praça da República), fosse ter à Rua Formosa, numa situação fronteiriça ao fim da Rua Direita da Misericórdia para Santo Antônio” (atual Praça da Patriarca).É possível que devido a esse ato a Câmara Municipal, em 21 de abril de 1863, através de Decreto, tenha determinado a abertura de cinco ruas, seriam elas as atuais ruas Cel. Xavier de Toledo (primeiramente Rua do Paredão), Conselheiro Crispiniano, Dom José de Barros (Rua 11 de Junho), 24 de Maio e Barão de Itapetininga (antiga Rua do Chá), situada no então Bairro do Chá, abrangendo o Morro do Chá e região onde hoje localiza-se a Barão.
O Barão de Itapetininga
A família do Barão de Itapetininga habitava a região que corresponde ao Anhangabaú e mediações desde 1750. De acordo com Alonso, o primeiro registro histórico que obteve, mencionando a família nesse local se refere à padeira Ângela Villares, que morava em casa construída no então Vale do Anhangabaú. Nesse local, a partir de 1780, o neto de Ângela Villares o Capitão Francisco Xavier dos Santos, que depois tornou-se Mestre de Campo e Brigadeiro deu inicio a uma plantação de chá na região.
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O Vale do Anhangabaú no inicio do século XX |
No ano de 1822, a maioria das terras situadas no Vale do Anhangabaú eram propriedades do Brigadeiro Francisco Xavier dos Santos, a região na época era chamada de Morro do Chá ou de Chácara do Brigadeiro Xavier. Com o falecimento do Brigadeiro as suas propriedades passam ser administradas pelo seu sobrinho Joaquim José dos Santos Silva, que as nomeou como Chácara do Cadete Santos, espaço que se estendia do Acu (atual Av. São João) até o Piques (atual Praça da Bandeira), incluindo também parte das atuais Ruas Líbero Badaró (aberta em 1787 como Rua Nova de São José, que mais tarde passou a ser chamada apenas de Rua de São José) e 24 de Maio, até a Praça da República.
Desde de 1841, até a data de seu falecimento, em 11 de junho de 1876, Joaquim José dos Santos Silva era considerado o homem mais rico da cidade. Com o decreto imperial de 7 de junho de 1864 recebeu o titulo de Barão de Itapetininga.
Segundo o professor Alonso, a construção do Viaduto do Chá está relacionada ao Barão de Itapetininga e a sua família. Citando um dos antigos cronistas sobre São Paulo, destaca que:
O viaduto foi projetado em 1877 pelo Artista Gráfico e Ilustrador Jules Martin, francês formado pela Escola de Belas Artes de Marselha radicado no Brasil a partir de 1868. A concessão legal para a construção do primeiro Viaduto do Chá foi obtida em 21 de janeiro de 1887.
“(...) a pressuposta instalação de um viaduto, unindo o Centro tradicional à cidade nova – do outro lado do Vale do Anhangabaú – era a maior aspiração popular (…) O paulistano para alcançar a tal cidade nova era obrigado a descer a encosta entre o Morro do Chá, no Anhangabaú, e a Ladeira de Santo Antônio (hoje Dr. Falcão), atravessar o Vale pela frágil e secular Ponte do Lorena (no Piques, na parte onde está hoje a Praça da Bandeira), subir o Piques (Ladeira da Memória) e a Rua do Paredão (atual Cel. Xavier de Toledo) e, então, chegar ao Largo dos Curros (nome da Praça da República na época) (…) “
Entre os empecilhos durante a construção destaca-se a oposição de Francisco Xavier Paes de Barros – o Barão de Tatuí – diante da demolição de seu sobrado localizado na Praça do Patriarca.
Entretanto, o desembargo teria ocorrido em 6 de maio de 1889, por via de uma sentença do juiz Melo Alves, que deu ganho de causa à Câmara Municipal (que na época desempenhava funções semelhantes a de uma Prefeitura). A mencionada sentença determinou a expedição do mandado de desapropriação do prédio por atualidade pública.
Entretanto, o desembargo teria ocorrido em 6 de maio de 1889, por via de uma sentença do juiz Melo Alves, que deu ganho de causa à Câmara Municipal (que na época desempenhava funções semelhantes a de uma Prefeitura). A mencionada sentença determinou a expedição do mandado de desapropriação do prédio por atualidade pública.
“(...) As portas foram arrombadas por ordem do juiz competente ao estrugir de muitos foguetes.”
O canteiro de obras e o depósito de materiais teriam sido estabelecidos na Barão de Itapetininga, e após o mencionado desembargo deu-se continuidade à construção iniciada em 1888. O comprimento estimado do viaduto é de 240 metros, dos quais 180 correspondiam à parte metálica com ponte de ferro encomendada na Alemanha e fabricada pela empresa Harkert Duisburg, o material teria desembarcado no Porto de Santos em maio de 1889. Os outros 60 metros eram relativos ao aterro na Rua Barão de Itapetininga. O engenheiro Olavo Buhr foi o responsável pela construção do Viaduto do Chá, inaugurado em 6 de novembro de 1892.
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Inauguração do Viaduto do Chá |
Um aspecto considerado curioso pelo professor Alonso, é o portão localizado no centro do viaduto, o qual era aberto de manhã e fechado ao anoitecer. Inicialmente para transitar no Viaduto do Chá era cobrado um pedágio de três vinténs. Só a partir de 1897 com o Ato da Municipalidade, o trânsito teria tornado-se livre e gratuito. A lei Municipal nº 276 de 30 de setembro de 1896 determinou que:
“Fica franqueado ao público o Viaduto do Chá, ponte metálica que liga a Rua Marechal Floriano Peixote (parte da Rua Direita, como essa era na época, chegando até o Viaduto), à Rua Barão de Itapetininga, não podendo por ela transitar senão pessoas a pé ou a cavalo e veículos de condução pessoal”
Estabelecimentos e destaques da Barão de Itapetininga
Entre os aspectos referentes à Rua Barão de Itapetininga mencionados pelo professor José Rojo Alonso, estão os Cinemas e Teatros. Em 1909, por exemplo, foi inaugurado o Teatro São José e o Ideal Cinema. Entre as personalidades estão, o escritor Monteiro Lobato que com o também escritor e deputado federal Caio Prado Júnior fundou a Editora Brasiliense , o poeta Guilherme de Almeida, membro da Academia Brasileira de Letras e um dos organizadores da Semana de Arte Moderna em fevereiro de 1922. Almeida possuía um escritório no segundo andar do Edifício da Paz. Mario de Andrade também é citado pelo professor.
Nas décadas de 30 e 40 a Barão de Itapetininga passou por um período áureo, um espaço que comportava um “comércio elegante”, sendo o público-alvo os membros das famílias ricas de São Paulo.
“(...) A Barão de Itapetininga era uma rua elegante, de pessoas bem vestidas. Quando se vêem filmes de 1930 ou 1935, do local, e não se sabe se é São Paulo, Paris ou Nova York (…) a Barão de Itapetininga é a melhor rua que tem no Centro para o comércio. As famílias ricas vinham dos Jardins e do Morumbi e paravam os carros para tomar um chá no Mappin, na Confeitaria Vienense – casa de chá com música ao vivo – ou na Confeitaria Fasano, a rua ficava com aqueles carros importados (...)”
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